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9 de fev. de 2015

Resenha: O Caçador de Pipas de Khaled Housseini

Editora: Nova Fronteira
Páginas: 365
Lançamento: 2005

Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos em um dia nublado e gélido do inverno de 1975. Lembro dos momentos exatos em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás  de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que focava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não e verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. Olhando para trás, agora, percebo que passei os últimos vinte e seis anos da minha vida espiando aquele beco deserto.”


O Caçador de Pipas é a primeira leitura do projeto Volta Ao Mundo em 198  Livros e livro de estreia do Khaled Housseini. Escolhi começar o projeto com esse livro, pois já conhecia o trabalho do escritor e sei da riqueza cultural encontrada nas suas obras. Além disso, ele escreveu um dos meus livros preferidos, A Cidade do Sol, então não poderia me decepcionar.

A obra conta a história de Amir e Hassan, duas pessoas muito diferentes, mas que tiveram uma infância em comum no Afeganistão. Eles são de posições sociais, religião, etnia e personalidades diferentes, mas compartilharam a mesma ama-deleite construindo um laço poderoso  que nem mesmo o tempo poderia desfazer.

Amir é  um muçulmano sunni de etnia pashtuns que descende de  família rica, sempre teve acesso a tudo que quis, frequentou a escola, mas não era conhecido por sua coragem ou honra. Enquanto Hassan era um muçulmano shi’a de etnia hazara (os harazas foram perseguidos e oprimidos pelos pahtuns), era filho de servo, pobre, analfabeto, mas era reconhecido por sua lealdade e coragem.

“- Esse é o verdadeiro Afeganistão, agha sahib. O Afeganistão que eu conheço. Você? Você sempre foi um turista por aqui. Só não sabia disso.”

No inverno de 1975, Amir tem uma chance de demonstrar sua coragem e finalmente se redimir da sua covardia e egoísmo, no entanto,  o personagem desperdiça sua chance e não enxerga sua redenção. E essa cena, que envolve uma calça de veludo marrom e uma pipa azul vai selar o destino desses dois personagens.

A partir daí começa uma história espetacular sobre amizade, traição e redenção, que  discute relações sociais, familiares, religiosas e com a pátria amada. É uma história muito triste e tocante, escrita de forma primorosa e eloquente, e que precisava ser contada.

“Nessa época, aqueles ruídos eram estranhos para nós. A geração de crianças afegãs cujos ouvidos só conheceram o som das bombas e da artilharia ainda estava por nascer.”

O Caçador de Pipas tem como pano de fundo o Afeganistão e suas transformações ao longo do tempo. A história começa com o período de monarquia, passa pela invasão soviética, o domínio dos talibãs, a invasão norte-americana e o governo da Aliança do Norte. Ela mostra como todas essas mudanças e conflitos afetaram os afegãos e transformou o destino dessas pessoas.

“ Muito antes de o exercito roussi invadir o Afeganistão; muito antes de suas aldeias serem queimadas e suas escolas destruídas; muito antes de se plantarem minas terrestres como sementes de morte  e se enterrarem crianças como pilhas de Pedras, Cabul já tinha se tornado uma cidade de fantasmas para mim. Uma cidade de fantasmas de lábio leporino.”

Através da leitura  conhecemos um pouco mais dos rituais, tradições e costumes dos afegãos e como a sociedade se organizava. Também aprendemos um pouco de farsi, língua oficial do Afeganistão, pois em diversos momentos o autor utiliza palavras  próprias do idioma como baba ( pai), babalu ( bicho-papão),  saratan( câncer), laaf.

Mas minha maior descoberta foi  os hazaras. Tenho que confessar que não sabia da existência dessa etnia e muito menos da sua história de repressão. Eles são completamente subjulgados pelos pashtuns,  só ocupam cargos de baixo nível e são considerados como sub-humanos por uma parte da população afegã.  É muito triste saber dessa situação de intolerância e ódio contra uma cultura.

Durante a história, o autor também levanta a discussão sobre o padrão das duas medidas, como a sociedade trata diferente o sexo masculino e feminino. A sociedade afegã é ainda muito machista, o papel da mulher é muito restrito ao ambiente domestico e a valores como a castidade e honra de um mulher muito valorizados.

“ Aquele pirralho indiano logo aprenderia o que os britânicos aprenderam no começo do século, e os russos viriam a descobrirem fins da década de 1980: que os afegãos são um povo independente. Cultivaram os costumes, mas abominam as regras. E como as pipas não podia ser diferente. As regras eram simples: não haviam regras. Empine a sua pipa . Corte a dos adversários. E boa sorte.”


 O Caçador de Pipas é aquele tipo de livro nos cativa logo nas primeiras páginas e que tem uma história impossível de esquecer. É uma leitura que recomendo para todo mundo, principalmente para quem quer conhecer um pouco mais sobre outra cultura e sobre a história do Afeganistão. Não poderia ter começado esse projeto de forma melhor!


Um comentário:

  1. Até hoje não tive coragem de ler este livro. Fiquei encantada com Cidade do Sol, mas o fato de Caçador de Pipas ser igualmente perturbador, me deixou um pouco com medo. Pretendo ler assim que conseguir enfrentar este medinho! hahahaha

    Adorei a resenha, Vicky, me ajudou bastante. Beijãããão!

    Clouds and Fantasy

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